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Princesa ou Quitéria?

27/04/2010


José Jantália

 

No império, muitas e muitas pessoas defendiam ardentemente que a abolição da escravatura seria um desastre para o Brasil, afirmando que a economia sofreria um colapso, que a produção nas fazendas seria paralisada, que não haveria como substituir a mão de obra escrava, que os negros eram a base da economia colonial e imperial, que as tentativas de libertação destes sempre terminavam em carnificinas, enfim, que o mundo iria acabar se os escravos fossem libertos. Para boa (boa?) parte da sociedade da época tudo deveria ficar como está.

Incrível:

tal posição era defendida também por parte da imprensa daquele período.

É verdade que havia quem combatia Rui Barbosa, José do Patrocínio, Antônio Bento, André Rebouças, a própria princesa e outros heróis abolicionistas porque realmente acreditava que esta atitude era a sensata, a correta, a coerente. E, claro, havia também quem lutava contra a abolição porque era mesmo escravista de corpo, de alma e, na maioria das vezes, de bolso. Os conservadores eram contra a libertação dos escravos.

Voltando à atualidade, graças às denúncias de pessoas corajosas e comprometidas com a causa animal e com a verdade o serviço municipal de esterilização de animais domésticos (acabei de batizar o programa...) foi aprimorado. Ainda não é o ideal (mui longe disto), mas uma série de apontamentos foram levados em conta na realização dos mutirões. A bagunça (que sempre favorece quem age com má intenção), ao que tudo indica acabou, ou foi minimizada a patamares suportáveis.

É exatamente o oposto do que alguns afirmam:

os animais saíram ganhando, dentro desta patética realidade.

A afirmação constante por parte de algumas pessoas de que as castrações são prejudicadas quando há denuncias esboçam uma débil tentativa de, pela repetição, transformar uma mentira em verdade. E também de inibir, por mero apelo emocional, o ato dos munícipes em reclamarem quando não são bem atendidos num serviço pago com dinheiro da Prefeitura, ou seja, pago pela população. Foi muito útil aos animais o depoimento da Profa. Sônia Dintof na CPI da COVISA, e estou convicto que o mesmo surtirá o efeito corretivo e saneador desejado. Segundo alguns “conselhos” o certo seria que ela e outros moradores de São Paulo se calassem diante do que viram e vivenciaram.

ONG nenhuma está acima do bem e do mal. Já falei isto.

Se possível nos fosse retroceder no tempo e se voltássemos ao império de Pedro II, a Prof. Sônia Dintof certamente estaria ao lado da Princesa Isabel, ou de Zumbi e de outros compatriotas, lutando com heroicidade pela justiça e pela fim da escravidão. Outras figurinhas, todavia, seriam companheiras daquela personagem concomitantemente religiosa e escravocrata do Romance Os Mulatos. Explicando melhor: uns estão mais para Princesa Isabel...outras para Quitéria (não lembro o sobrenome).

E a história vai sendo escrita, doa a quem doer.